quarta-feira, 14 de março de 2012

De escrever

Tenho saudades de escrever como antes, e vontade de expressar aquilo tudo que deixo sempre rpa registrar depois... mas é que a verdade..
A verdade é que eu tenho medo das palavras.

Não, não é bem medo... é respeito.
Eu sei o que elas representam no mundo,
e sei o que elas representam no meu mundo.

Palavras são gotinhas de chuva no deserto,
são brasa que queima, e deixa marcas...
Marcas permanentes, mesmo que não eternas,
que coisa quase nenhuma é eterna...

Palavras escritas vivem mais que nós,
fogem de nós,
bebem de nossa essencia e correm pra longe,
vão ser de outros donos...

Sentimentos e pensamentos mudam, mas as palavras, uma vez escritas
são atribuídas a nós... hoje.
Que injustiça é acusar alguém de ter escrito o que ele escreveu!

Como eu quero deixar expresso o que eu penso,
para que eu possa rir de mim mesma,
ou admirar que eu era,
ou confirmar uma parte de mim que se mostrava tão antes...

E como eu quero que sejam só minhas essas palavras que nunca foram minhas e nunca serão.


sexta-feira, 9 de março de 2012

De conversas com uma personagem Wedekindiana


O céu está cinzento hoje, e o dia propício para rostos sisudos e faces emburradas, mas o som da chuva me faz lembrar a sua risada, e eu sorrio. Nunca entendi direito essa sua fascinação pela água, mas posso apreciar seu deleite em caminhar pela chuva.
O som gostoso das gotas estalando no chão, em pequenas explosões de prata ao nosso redor, as quase alfinetadas na pele, e o carinho da água que escorre lentamente, encharcando a roupa e causando arrepios na pele, devo concordar, são mágicos.
Olho a chuva cair e o vento rodopiando as gotas me faz quase ver seu vulto rodando, rodando, com os braços abertos e o vestido molhado que parece querer te fazer subir, subir... só pra cair com as gotas de novo. Os olhos ora fechados ora abertos, na dúvida entre o contemplar e o sentir, a cabeça jogada pra trás e os cachos que vão se desmanchando e escorrendo como a água ao seu redor, a boca aberta que parece querer beber o céu inteiro que desaba em você.
Essa sua sede... Você sempre quis sorver o mundo inteiro com esses olhos escuros e vorazes. O olhar quase sempre certo de si, exceto quando em dúvida. E a curiosidade criativa tão sua, inventando maneiras de entender mesmo quando ninguém ousaria explicar.
Mas o melhor som da chuva é a sua risada aguda, quase um grito infantil, de puro prazer de estar ali, uma ninfa das águas.
Não posso evitar te imaginar sempre ali, dançando sob a chuva, seus sonhos intactos, sua doçura eternamente crisálida, tecendo cuidadosamente asas sem fim, que nunca se abrirão.
Você dança na chuva e embala seus sonhos, e espera um mundo melhor, e espera algo mais, a volta do amor que deixou o gosto acre e doce na boca, a chegada de um anjo pequenino que ainda vem. E eu sabendo que suas esperanças são folhas facilmente sopradas pelo vento no fim do outono, já secas e sem vida, mas ainda presas por um fio de teimosia ao galho que as sustenta.
A chuva passa, tendo lavado as almas e saciado o solo, e cessa.Por mais que desejemos, ela não pode se prolongar mais que o necessário. Acho que você é como a chuva de verão... Um sopro de frescor no desconforto, uma onda de prazer que faz dançar e correr e sorrir, mas que tem a simples missão de tocar , e com seu toque permitir que tudo floresça, menos você mesma. Assim, missão cumprida, cessa de repente, interrompida, pra voltar pro lugar de onde veio e deixar atrás de si um vazio, ainda que povoado pelas marcas de sua passagem.